sábado, 3 de novembro de 2012

História da África

Márcio Ramos

A África é freqüentemente associada à pobreza, guerras civis, miséria, subdesenvolvimento. Quando muito é lembrado que ela é a região de belezas naturais, como o deserto do Saara, das zebras e elefantes etc. Na realidade, a  África é uma região com muita história para contar, apesar de muita gente insistir que ela não possui história, já que foi lá que o homem surgiu. E foi de lá que saiu uma enorme contribuição para o desenvolvimento cultural e econômico de todo o mundo.


Para entendermos a história africana, é preciso perceber que o continente foi formado por diversos povos, que se organizavam desde a formação de clãs, passando por reinos e verdadeiros impérios.
Foi na África que se desenvolveu um dos povos mais famosos da Antiguidade, os egípcios. Mas além do Egito, vários povos existiram na região.  Ao sul do Egito, numa região chamada Núbia, desenvolveu-se a  civilização kush. Seu período de maior glória foi por volta de 1700 a.C. A  capital era a cidade de Kerma. Kush era governado por um monarca absolutista, que se colocava acima das leis.
O povo núbio tinha a pele bem escura e recebeu influencia da cultura egípcia. Mas os túmulos dos seus reis(que chegavam a 90 metros de altura) tinham câmaras maiores do que qualquer pirâmides.
Um dos pontos mais importantes da organização dos povos africanos era a questão da família. Devidos às constantes epidemias e crises econômicas nos diversos povos africanos, ter filho era fundamental, o que leva os iorubas a afirmarem, que “sem filho estás nu”. A quantidade de filhos era importante para o status social dos pais, além de serem essenciais em uma economia predominantemente agrícola.
A África possuiu várias civilizações em toda a sua história. E muitos desses povos que se desenvolveram ao norte do continente tiveram contato com os europeus e árabes.  Os árabes no século XI, espalhando a fé islâmica, conseguem conquistar  essa região. Dessa forma, muitos povos do norte da África se tornaram islâmicos nesse período.

Os povos africanos possuíam formas de organizações diferentes entre si. Bem antes da chegada dos europeus, várias sociedades formaram reinos e impérios .Havia o reino de Gana, do  Mali, Zimbabwe, reino Sudaneses, Congo, entre outros. Algumas regiões possuíam cidades importantes. Na Costa do Gabão, se desenvolveu um grande aglomerado de aldeias, Mbansa Kongo , e Benim foi descrita por um viajante como uma cidade enorme, possuindo 15.000 habitantes. Outra cidade, Kano, era cercada por sete quilômetros de muralhas.
Segundo os árabes, o reino de Gana era tão rico, que no palácio o rei, os cachorros tinham coleiras de ouro. Na capital havia casas de pedras de dois andares, onde moravam os nobres e altos funcionários do Estado. Os mais pobres vivam em cabanas  de terra cobertas de palhas.
            Os povos iorubás se desenvolveram onde hoje é a Costa do Marfim. Possuíam capitais, que eram o seu centro administrativo e político, com palácios e templos. As cidades mais famosas eram Oio e Ifé. Eles formavam uma verdadeira federação de cidades, e muitas delas eram maiores que as cidades europeias no mesmo período. Elas eram cercadas de muralhas de pedras e habitadas por nobres artesãos, comerciantes e camponeses. Os camponeses saiam de manha para trabalhar na lavoura. Todos tinham que pagar impostos para o governo, controlado pelos nobres, que também eram comandantes militares. Os iorubás importavam cavalos do Sudão central e os utilizavam no exercito.  
            Quando se iniciava na Europa o processo de expansão marítima, outro povo se desenvolvia na costa oeste do continente, o Congo. Ele era um reino forte e estruturado, tendo diversas províncias, e sua capital, Mbanza, possuía mais de 100.000 habitantes. A sociedade congolesa se dividia em nobreza, camponeses e escravos, a poligamia era pratica comum, e o que definia a descendência era a mãe. Com a chegada dos europeus, o rei de Portugal travou uma relação comercial durante muitos anos com o rei do Congo, que até batiza no catolicismo e muda de nome para agradar, ou manter o comercio entre eles. Seu nome Nzinga-a-Nkuvu muda para D. João I.
No século XV os europeus começam o processo de exploração do continente. Inicialmente os negociantes europeus adquiriam marfim, pimenta e ouro. Depois, quando se iniciou a colonização da América no século XVI, passaram a ter um grande e terrível interesse: obter escravos.
Havia duas maneiras de os comerciantes europeus obterem escravos africanos. O primeiro era direto: desembarcavam soldados que invadiam uma aldeia e capturavam seus moradores. O segundo modo era indireto. Os povos africanos faziam guerras entre si e vendiam os prisioneiros para os comerciantes europeus. Algumas nações africanas chegaram a  enriquecer atacando outras nações e vendendo os habitantes aos traficantes de escravos.
Entre os povos africanos havia escravos. Eles eram obtidos através de guerras, condenados pela justiça e endividados.  A existência de escravos facilitou o sucesso do trafico. Mas foram as ações dos europeus na busca de novos cativos que provocaram o aumento dos conflitos entre os povos. Havia escravidão mas não escravismo, como bem distinguiu a historiadora Marina de Mello de Souza. Escravidão é o uso de pessoas destituídas de seus direitos sociais, afastada de seu grupo de origem, obrigada a cumprir ordens de seu senhor, podendo ser castigada e, principalmente vendida como escrava.  Já o escravismo se refere a sociedades fundadas principalmente na utilização do trabalho escravo, o que não era o caso dos africanos e sim dos europeus colonizadores da América.
No período colonial foram trazidos para o Brasil cerca de 5 milhões de africanos para serem escravizados. Foram considerados “coisa”,  instrumento de trabalho para os “senhores”. Durante todo esse período houve resistência da comunidade negra. E a resistência continua até hoje, pois os resultados da escravidão são sentidos pelos negros e seus descendentes, através do racismo e da desigualdade social.
A África foi pouco a pouco sendo ocupada pelos europeus, mesmo com toda a resistência de seus habitantes. A partir do final do século XVIII, após a Revolução Industrial, a cobiça européia se volta para o continente, que acabou sendo dividido pelos impérios da Europa.

            No início do século XIX, os povos africanos estavam organizados em grandes impérios, como os zulus ao sul. Mas as transformações internas, onde muitas sociedades começaram a reagir com mais intensidade contra a presença européia, leva a um domínio quase que completo no continente. Só para se ter uma ideia, em 1800, apenas 1/10 da África estava sob controle europeu. Já em 1900 essa porcentagem beirava a 9/10.  Essa conquista era justificada pelas idéias Positivistas e de Progresso que vigoravam na Europa, que afirmavam que era dever dos mais fortes “proteger” os mais fracos. O homem branco possuía um “fardo” enorme, que era levar a “civilização” aos Bárbaros africanos. Esse discurso foi usado para dominar, explorar as riquezas da África e desestruturar toda a sociedade africana.

Bibliografia:
DAVIDSON, Basil. O fardo do homem negro. Os efeitos do estado-nação em África. Lisboa: Campos das Letras, 1992.
OLIVIER, Roland. A Experiência Africana: Da Pré História aos Dias Atuais. RJ, Jorge Zahar Ed, 1994.
Ancestrais: uma introdução à História da. África Atlântica, Mary Del Priore e Renato. Pinto Venâncio. José Alexandre da Silva


Veja mais:
Documentário História da África

Um comentário:

  1. gostei deste artigo, o homem e a sua ganancia destruindo a vida do outro .

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