sábado, 3 de novembro de 2012

Africanos no Brasil


Márcio Ramos

Geralmente quando se pensa na presença de africanos no Brasil só lembramos da escravidão, essa nódoa “ilavável” em nossa história. Temos que compreender que a escravidão de fato ocorreu e nos marcou, mas precisamos compreender melhor como se deu essa presença. Quais povos africanos foram trazidos para cá? Como viviam lá na África? Como se organizaram aqui em nossas terras? Quais suas contribuições para nossa sociedade? Tentemos pensar sobre algumas dessas questões.

Os iorubás e ambundos são os grupos  étnicos mais conhecidos entre os africanos que chegaram no Brasil, mas não eram os únicos. Havia os iacas, os guns, os angola, nagô, mina, dentre outros.  Os negros não pertenciam a um mesmo povo, mas sim possuíam tradições, crenças, valores e costumes bem diferentes entre si. Em suas terras, “alguns andavam de camisolão até os pés e gorro na cabeça, aquele não tinha mais do que um pano entre as pernas, amarrado na cintura. Aqui, as mulheres entrançavam os cabelos com contas e conchas; ali, cobriam a cabeça com véu ou turbante; acolá raspavam o crânio.”[1]


Cada povo tinha habilidades específicas, dependendo da região de onde viam. Isso explica o fato de  alguns negros produzirem fornos de altíssima qualidade, outros trouxeram técnicas de mineração, como a bateia e a escavação das minas. Alguns, como os povos axantes, criavam joias de grande beleza. Apesar da proibição de Portugal, os africanos produziam tecido para seu uso, usando  teares simples como os usados na África.

Eles influenciaram a construção de moradias no Brasil. As casas pobres se inspiraram nos modelos africanos, com tetos em duas águas, e não cônica como em Portugal. Além disso, a ideia de construção de varandas nas casas também é de origem da África.  Nessas varandas, as crianças ouviam os relatos fantásticos de diferentes nações africanas, cujos personagens e enredos se misturavam com as historias dos nativos indígenas e dos europeus. Exemplo disso são as historias do Curupira, de origem tupi, e dos moatia, dos povos axantes, que eram personagens muito parecidos, pois eram pequenos e tinham os pés virado para trás, alem de controlarem os animais selvagens.

As festas e danças próprias dos africanos vieram para o Brasil junto com eles. Os maracatus, congados e reisados são exemplos dessa atividade cultural de grande importância, que serviam para preservar viva a memória da África. A dança era fundamental, pois, “não se dançava apenas pela alegria do convívio. Dançava-se também para reverenciar os deuses e recebê-los na alma”[2]

Ainda em relação à cultura, diversas foram as religiões africanas que foram trazidas para o Brasil. Cada povo que aqui chegou tinha a sua crença religiosa. Algumas acabaram sendo absorvidas por outras religiões ou simplesmente desapareceram. Os portugueses fizeram de tudo para aculturar os africanos, fazê-los acreditar que só o catolicismo era a religião correta e possível, mas eles, em sua maioria, resistiram a essa violência.

Entre as religiões que sobreviveram, o culto aos orixás foi o que atingiu o maior numero de seguidores.  Essa religião era própria do povo ioruba, que viviam na região da atual Nigéria, mas que se universalizou e se tornou a crença de outros grupos, e hoje é a mais conhecida. Mas entre os povos da África havia alguns que eram muçulmanos, cristãos e de varias outras religiões.

Enfim, é importante conhecer e valorizar a contribuição dos povos africanos para a formação do Brasil. É necessário perceber que a idéia de africano é uma construção social e histórica. Obviamente eles não se viam assim, mas como gã, evés, acuamus, auoris, nagô, baribas, etc.  Para cá foram trazidos mais de uma centena de povos diferentes.Chamá-los todos de africanos foi uma forma de uniformizá-los e facilitar sua dominação pelos portugueses. 



[1] COSTA e SILVA, Alberto da. “Um Brasil, muitas Áfricas”, IN, Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 7, n. 78, Março de 2012.
[2] COSTA E SILVA, op. Cit. p. 20. 

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